
A prevalência de empregos sedentários nas sociedades modernas tem aumentado radicalmente nas últimas décadas. Estar sentado por períodos prolongados de tempo não se limita apenas ao local de trabalho, uma vez que a nossa casa e o próprio ambiente social estão repletos de tentações para o sedentarismo. A associação entre o comportamento sedentário e o aumento da incidência de doenças cardiovasculares tem sido crescentemente reconhecida [1], mas os mecanismos desta associação permanecem obscuros, adiando a criação de estratégias eficazes que possam mitigar os riscos associados a este emergente risco laboral e social [2].
Sabe-se, no entanto, que durante um período prolongado na posição sentada existe uma redução acentuada do fluxo sanguíneo e das principais forças hemodinâmicas nos membros inferiores, que subsequentemente conduzem à disfunção da fina camada de células que reveste o interior das artérias. Tal reveste-se de relevância clínica à luz da evidência que estabelece que a vasculatura da perna é altamente vulnerável à formação de placas ateroscleróticas.
Por esta razão, um grupo de investigadores da Universidade do Missouri, EUA [3] examinou recentemente a hipótese de elevações transitórias no fluxo sanguíneo e nas principais forças hemodinâmicas com ação sobre a parede da artéria serem suficientes para evitar a disfunção arterial dos membros inferiores causada por períodos prolongados na posição sentada. Como? Pedindo a 11 participantes jovens e saudáveis para contraírem periodicamente os músculos de uma das pernas (1 min on:4 min off) durante as 3h do protocolo que estivessem sentados. Parece-lhe familiar? Sim! Estamos mesmo a falar em promover aqueles TIQUES nas pernas que tanto ensombraram os seus pais e professores, e que provavelmente lhe valeram valentes reprimendas para estar sentado e quieto.
Os resultados deste estudo mostram que a disfunção arterial da perna causada por uma sessão prolongada na posição sentada pode ser evitada por pequenas quantidades de movimento da perna ou TIQUES. O modelo de TIQUES foi escolhido para refletir o comportamento natural de inquietação, e como tal, os participantes foram instruídos a aderir à sua própria cadência que acabou por ser bastante semelhante entre indivíduos (248 tiques/min). Cada minuto de TIQUES causou um aumento acentuado e transitório no fluxo sanguíneo e nas principais forças hemodinâmicas com ação sobre a parede da artéria, que inclusive permaneceram ligeiramente elevadas mesmo após o término das contrações musculares periódicas. Ainda a salientar que os benefícios foram estritos à perna que executou os TIQUES.
Pequenos gestos geram grandes ações e este estudo revela que os tais “mal-amados” TIQUES são suficientes para compensar os efeitos negativos na função arterial da perna provocados por períodos prolongados na posição sentado, muito provavelmente através de aumentos intermitentes nas forças hemodinâmicas locais induzidas pelo fluxo sanguíneo. Assim, da próxima vez que lhe disserem em casa ou no trabalho que os seus movimentos inconscientes e periódicos das pernas estão a incomodar, não se envergonhe…as suas artérias agradecem.
Referências
- Church, T.S., et al., Trends over 5 decades in U.S. occupation-related physical activity and their associations with obesity. PLoS One, 2011. 6(5): p. e19657.
- Martens, C.R., Taking steps in the workplace to improve vascular function. Exp Physiol, 2015. 100(7): p. 774-5.
- Morishima, T., et al., Prolonged sitting-induced leg endothelial dysfunction is prevented by fidgeting. Am J Physiol Heart Circ Physiol, 2016. 311(1): p. H177-82.
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